Juro, é uma das coisas mais legais que já inventaram. Não estou sendo sarcástica, prometo.
Primeiro de tudo quero agradecer muito todos os emails e mensagens no face. Sei que muitas vezes não consigo responder tão entusiasticamente assim mas isso não significa que não tenha sido de extrema importância recebe-lãs!
Hoje foi o meu primeiro dia de quimioterapia (dia 10/01). Tem algumas horas que acabou já, e eu estou em casa assistindo Big Brother. A coisa toda, o bicho de sete cabeças, é o seguinte: fui lá, conversei com uma enfermeira gente boa, com uma nutricionista gente boa, ela pegou uma veia na minha mão,pendurou diversos sacos de medicação ao longo do tempo como se fosse soro, e só. O quartinho da quimio tem tv a cabo, internet, uma cama confortável e um garçom que trás o que vc quiser, a hora que vc quiser pra comer e beber. Considerando que aqui, na minha cama eu tenho tudo isto, menos o garçom, acho que eu estava melhor lá!!! Mas falando serio, eu não senti nada, nem enjôo, fraqueza, veia queimando, sono, hiperatividade. Nada. Tem uma chance que eu sinta um leve enjôo nos próximos dias mas já tenho medicação pra isso. E se alguém está pensando: não, não estou careca ainda. O cabelo demora a cair e não sei que dia vai acontecer, mas podem todos irem se acostumando com a idéia. Mas também não venham me dizer que o cabelo é o de menos, porque não é. Mas eu já me conformei e já estou até ansiosa para colocar meu cabelo novo (muito melhor que o meu pixaco por sinal)!
Então é isso! Todo mundo pode voltar ao normal comigo (contanto que não tenham pena, nem digam que a queda do cabelo é o de menos, lembrem-se! Posso ser agressiva com uma excelente desculpa a partir de agora!) Claro que buscar água, coca e lanchinhos pra mim, fazer mordomias, me dar lenços maravilhosos para cobrir minha cabeça imensa de presente, são sempre atitudes bem vindas! Hahaha mas não mandatorias..
Fiquem todos bem, porque eu estou bem, não tenham medo de dizer a palavra câncer, dou mais notícias em breve e como diriam minhas companheiras de diagnóstico: Força na peruca!!!!!!!
…e isso foi o que aconteceu, agora sobre como eu estou. Não consigo entender o porque de isso estar acontecendo comigo. E nenhum medico consegue me dar essa resposta. Tem gente que fala que é estilo de vida. Tem gente que fala que é magoa guardada, problema não resolvido. Eu pessoalmente acho que isto é bobagem. Eu não causei isso pra mim mesma. Mesmo que inconsciente. É só uma coisa que aconteceu e que, por enquanto, não tem explicação. E nessa falta de explicação é que esta a importância que todas as pessoas da família se examinem, contem para seus médicos o que aconteceu. E pessoas fora da família também. E muito importante, é serio. A minha preocupação e o meu diagnostico são os fatores condicionais para a minha chance de me tratar. De me curar. Sim, hoje em dia tem muitos recursos, mas se a gente não for no medico, não se preocupar em receber um diagnostico correto, de que adianta? Muitas pessoas falam que na vida a gente só tem o que pode agüentar, e eu acho que é verdade mesmo. Eu estou muito, muito bem com o meu diagnostico, com o meu câncer. E uma doença seria, mas tratável. Na mama ainda, que não é um órgão vital e não vai me fazer falta. E eu ainda por cima tenho acesso aos melhores médicos, tratamentos. Por tudo isso eu não me considero uma pessoa de azar por estar dentro de uma estatística rarissima, e sim uma pessoa de muita, muita sorte por ter um câncer com um nível de cura altíssimo, por ser super saudável e poder fazer até os tratamentos mais agressivos, por não ser uma doença que precisa amputar uma perna, um braço, coisa que seria muito difícil de aceitar. Peito a gente compra outro melhor. Cabelo também, eu nunca gostei muito do meu mesmo…quem sabe não nasce loiro e liso natural da próxima vez.
Tudo isso não significa que eu tenha um coração de pedra e nenhum sentimento. Eu tenho medo sim, mas cada dia menos. E eu tenho mais que confiança. Eu SEI que vai ficar tudo bem. Não sei como nem porque, mas eu somente sei. Da mesma maneira que eu sabia que não era um simples cisto quando comecei a fazer os exames, não achei que fosse câncer, mas senti que era alguma coisa grave.
Eu não estou deprimida, chorando em casa. Alias, eu chorei muito pouco, porque não vejo a coisa todo como uma desgraça, e sim como mais uma oportunidade, ou até prova, que a vida me deu para eu saber mais sobre mim mesma. “Pra eu provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém.” No começo eu pensava “eu não sei se eu vou viver ou se eu vou morrer” mas a verdade é: quem de vocês sabe? O que eu já pensei é que estatisticamente minhas chances estão até melhores, porque do câncer eu vou me curar, e qual a chance de um raio cair duas vezes no mesmo lugar?? Portanto eu só peco uma coisa: não tenham pena de mim. Não quero ser associada a lagrimas e tristeza, é deprimente demais pro meu gosto. E se eu estou bem, porque todo mundo não vai estar também? Talvez essa seja a hora de redefinir sonhos, aprender muito, cair na real, deixar de fazer o que odiamos fazer…pra todos nós. Como disse steve jobs, diagnosticado com câncer “we are already naked, there is no reason not to follow your heart”. E isso faz muito sentido pra mim agora.
Uma pausa pra explicar o que eu também não sabia ha dois meses atras: os primeiros médicos que fui, são os cirurgiões e mastologistas, eles são responsáveis por obviamente a cirurgia, e o acompanhamento (meio de longe) durante a quimioterapia, e os especialistas em mama. Aqui na minha historia eles são o Dr Verdade-nua-e-crua, o Dr Me-arruma-um-dentista-pelamordedeus (tb conhecido como Dr Careca-brilhante), e o Dr Silvio. O medico que receita, acompanha e tem toda a responsabilidade sobre a quimioterapia é o oncologista, que, no caso dessa minha história aqui, é o Dr Oren”. E continuando…
Decidi ir pra Belo Horizonte, passamos um Natal ótimo, consegui me distrair e rapidinho já estava na hora de voltar. Durante a viagem cheguei a conclusão de que seria loucura não buscar uma terceira opinião, já que as duas primeiras discordaram, e aí a minha mãe com a agenda de telefones afiada com cirurgiões marcou um para quarta feira de manha mesmo!
O terceiro medico foi o Dr Silvio, e pra ele eu não criei um apelidinho porque eu gostei muito, muito dele. Ele foi o primeiro medico que realmente me fez entender o que estava acontecendo comigo, realmente se conectou. Ele me acalmou bastante, falou que vai ficar tudo bem, que e só uma fase. Ele concordou com a abordagem de fazer a quimio primeiro, e quando eu disse que tinha consulta com o Dr Oren ele disse que o conhecia, e que e um excelente medico. Ele fez uns pontinhos de tatuagem na minha pele em volta de onde o tumor esta localizado, e me deu uma péssima noticia: não posso tomar sol durante todo o tratamento, e por 4 meses após a cirurgia, ou seja: um ano sem sol, sem praia, sem piscina, sem bronzeado. Droga.
O quarto medico foi o oncologista, Dr Oren e eu adorei ele. Ele foi o primeiro medico que não ficou pesaroso ao conversar comigo, que não me olhou com uma cara de pena ou de “que judiação!” durante a consulta. Pelo contrario, ele foi bem descontraído, riu, e acreditem ou não, descobrimos que eu e ele moramos no mesmo prédio em Nova York, com alguns bons anos de diferença. Ficou combinado que a quimio iniciaria no dia 10 de janeiro, e que neste meio tempo (esta consulta foi dia 26/12) eu faria um tratamento e posterior coleta de óvulos, caso eles venham a ser necessários quando eu quiser ter filhos. O fato é que existe uma chance, baixa, mas presente, de que eu entre na menopausa antecipadamente por conta dos remédios, portanto matando todos os meus óvulos. A coleta é uma mera precaução, e depois de 9 dias de injeções na barriga (muito bem aplicadas pela minha irmã Flavia) duas vezes por dia, e idas ao medico diárias, foi realizada ontem com sucesso! 8 projetos dos meus bebes estão congelados em um freezer por aí…muito hightech não?
Ok, exames realizados, agora tinha chegado a parte de aguardar resultados. Me foram prometidos para dia 26 de dezembro, e portanto eu marquei uma nova consulta com o Dr Nilson (ginecologista, lembram dele?) no próprio dia 26, depois do Natal. Eu coloquei toda essa meleca pro canto da minha cabeça e estava de malas prontas para ir para BH passar as festas de fim de ano. O plano era sair sexta feira, dia 21/12, após o almoço. E assim a calmaria estava prestes a acabar…